segunda-feira, 29 de junho de 2009

Inteligência: a velha questão do 3D&T

Mensurar a inteligência de um personagem sempre foi um baita problema no 3D&T, além de ser mais uma oportunidade para os que torcem o nariz e xingarem ainda mais o mais relevante fruto do RPG nacional.
D&D tem "inteligência" e "sabedoria" e Storyteller tem "percepção", "inteligência" e "raciocínio", já no 3D&T, a única característica que tem algo haver com inteligência é a "habilidade". Parece piada isso, né? Olha o que eu li no fórum da Jambô:
Tente adaptar o Lex Luthor. "Ah ele é muito inteligente por isso pode fazer muitas acrobacias!"
Eu dei muita risada quando li isso e acho que foi um dos motivos de escrever esse artigo. O que disseram aí faz sentido sim e é por isso que, olhando secamente, o 3D&T parece ter uma enorme falha: um sistema combativo, mas que não consegue quantificar a inteligência do personagem.

QI no 3D&T? É só uma usar a inteligência!
Mas agora nós vamos discutir uma coisa para contornar isso e, de quebra, mostrar que o 3D&T está, na verdade, um passo a frente de sistemas como D&D.
Antes de prosseguir, um aviso: não vamos inventar aqui nenhuma regra nova. Algumas pessoas já tentaram concertar isso criando uma nova característica chamada "inteligência", onde o jogador compra níveis de inteligência. Não acho que isso funcione, aliás, criar isso obriga a pessoa a reescrever o fncionamento de  algumas dúzias de Vantagens, Magias e Testes. Complicado de mais e, de certa forma, deixa de ser 3D&T (deixa do mesmo tanto que 4D&T não é 3D&T). Outros fizeram coisas mais simples e funcionais; criaram Vantagens que simulam inteligência e Vantagens que simule burrice, mas mesmo assim, não é uma solução definitiva. Por isso que a ideia que vamos propôr aqui não cria nenhuma regra nova, só vamos discutir e abrir o leque das já existentes.
Mas antes de entrar no 3D&T, vamos discutir como o conceito de inteligência é tratado no mundo real.


Por uma centena de anos, o que dizia se uma pessoa era inteligente ou não era o teste de QI (Quociente de Inteligência). O cara ia lá, respondia uma penca de perguntas sobre lógica, matemática e linguística e pronto, diziam o quanto ele tinha de inteligência. Praticamente uma ficha de D&D, né?
Era assim até que na década de 1990 algumas pessoas proporam que talvez a coisa fosse diferente: alguém bom em matemática poderia ser ruim em lidar com outras pessoas (todo mundo conhece a velha história do CDF tímido). O que esses caras idealizaram é que não existia apenas uma inteligência a ser medida, mas vários tipos diferentes. Assim sendo, as pessoas não são tão burras (nem tão inteligentes) quanto se imagina. O problema é que até agora estavam medindo apenas um ou dois tipos de inteligência e ignorando os demais (alguém aí falou D&D?).
Mas e então, quantos tipos de inteligência existem? Bem, essa é uma boa pergunta, mas que não tem uma resposta definitiva. Existem alguns tipos que são mais aceitos, mas mesmo assim, não dá pra ter certeza se deveriam ter mais ou menos tipos de inteligência. Em geral, é os tipos de inteligência são 8: lingüística, lógico-matemática, espacial, corporal-cinestésica, musical, interpessoal, intrapessoal, e naturalista. Alguns ainda propõe uma inteligência existencial, mas não é o foco descobrir com quantos se paus se faz a canoa da inteligência humana, apenas destacarque não se pode medir a inteligência de maneira tão simples quanto se mede a força ou a destreza de uma pessoa (desculpe D&D, nada pessoal).

Personagens inteligentes
Acho que vocês já devem estar entendendo aonde eu quero chegar com isso. No 3D&T nós temos o sistema de Perícias e Especializações: se alguém tem a Perícia Artes, significa que essa pessoa tem domínio de inteligências criativas como linguística (redação e retórica), musical, interpessoal (atuação) e até um dedinho em inteligências como corporal-cinestésica (dança). Já alguém que possua a Perícia Esportes tem um ótimo nível na inteligência corporal-cinestésica, mas não seria tão bom em lógico-matemática quanto alguém que possua a Perícia Ciências ou Máquinas (computação, engenharia).

Também temos algumas Vantagens e Desvantagens que tem relação com a inteligência de um personagem: Genialidade é o primeiro que nos salta à cabeça, com essa Vantagem podemos supor que o personagem é muito bom tanto para abstrair como para trabalhar com lógica (já que as duas coisas, por mais antagônicas que sejam, tenham uma forte ligação). Também podemos levar em conta Memória Expandida, que não fala diretamente de algum tipo de inteligência, mas ajuda num geral, já que memória tem haver com aprendizado, que é a forma como se adquire conhecimento e inteligência (não é à toa que ela ajuda o personagem a memorizar Perícias).
Algumas outras Vantagens não têm uma ligação tão restrita com inteligência, mas também não deixar de ter relação, como Arcano e outras vantagens mágicas, já que para ser capaz de utilizar magia é preciso algum quantidade de inteligência. Telepatia indica alguma inteligência intrapessoal, já que é preciso não só ver, mas entender o que se passa dentro da cabeça alheia. Torcida indica alguma inteligência interpessoal, demonstrando a capacidade do personagem de se relacionar tão bem que até possui fãs. E extrapolando um pouco, dá pra considerar algupem com Pontos de Magia Extras como alguém mais bem disposto mentalmente.
Também existem Desvantagens que tenham ligação com a inteligência. Dentre elas, a que é de longe a mais comum nesse sentido é Inculto. Um personagem com essa Desvantagem, ao contrário de um que possua Genialidade, vai demorar para entender as coisas, tanto abstratas como lógicas, lembrando que ele não precisa exatamente ser inculto por ser meio burrinho, mas pode ser que ele venha de uma cultura diferente, tendo assim uma maneira diferente de pensar. Além disso, támbém dá pra erguer relação com outras Desvantagens, como Dependência (dependendo do tipo), Fúria (o cara não sabe nem se controlar, será tão inteligente assim?), Insano (precisa dizer alguma coisa?) e ainda dá pra considerar os Códigos de Honra tendo alguma ligação com a inteligência existencial.

Ufa, chega de falar de Vantagens e Desvantagens! Só para concluir esse mapeamento que estamos fazendo em cima das regras, vamos lembrar da Característica que é contada para "testar" a inteligência, a mesma que faz de Lex Luthor um acrobata, só porque é inteligente: a Habilidade.
Alguns já podem ter entendido, outros não: onde raios a Habilidade entra nessa história toda de inteligências múltiplas? A maneira como alguém usa a inteligência não é uma inteligência à parte, mas é chamado de "raciocínio" ou "sabedoria" (finalmente, ponto para o D&D). A Habilidade é justamente isso: além de uma boa coordenação motora, também significa um bom raciocínio. Sem contar que muitos estudos apontam que pessoas bem dispostas fisicamente tem um raciocínio mais apurado que sedentários (mas isso também não significa que atletas sejam gênios).
Alguém com um raciocínio além do comum não é necessariamente inteligente. Pode ser bem burrinho até, mas sabe usar direito o pouco conhecimento que tem. Aí entra a Habilidade: não mede a inteligência, mas a forma como se usa a inteligência que tem, seja lá qual (ou quanto) for ela.

Inteligente? Quanto?
No D&D poderíamos mensurar o QI de um personagem com base em quanto ele tem em Inteligência, já no 3D&T a coisa fica mais nebulosa. Mas nem por isso a coisa é impossível. Poderíamos criar uma tabela semelhante àquela de calcular o dinheiro inicial, mas calculando a soma das inteligências de um personagem. Claro que eu não vou fazer isso aqui (olha o tamanho desse texto!). Mas já dá pra criar um protótipo apenas somando quanto se gastou com Habilidade, Perícias, Especializações e Vantagens que tenham a ver com inteligência e subtrair por quanto se ganhou com Desvantagens que também tenham a ver. Talvez multiplicar nessa conta o gasto com Habilidade e/ou Perícias x2. Seria interessante também se Genialidade tivesse um multiplicador maior, x3 ou x2. Aí vai de cada um, mas já é um começo.

Caso um mestre queira que os personagens de sua campanha tenham pelo menos uma inclinação para alguma das inteligências, ele poderia dar de graça à escolha do jogador uma Especialização (lembrando que um pacote com três Especializações custa 1 ponto). Ou então, caso o mestre esteja bem-humorado, poderia dar um ponto extra na hora da criação do personagem, sendo que esse ponto só poderia ser gasto comprando um pacote de Especializações, ajudando a pagar alguma Perícia ou Genialidade (e, quem sabe, Memória Expandida).

Bem, é isso. No 3D&T, medir a inteligência de um personagem não é tão simples quanto olhar características em uma ficha de D&D, do mesmo jeito que calcular a inteligência hoje em dia é muito mais complexo do que fazer um teste de QI. Não estou dizendo que o 3D&T tenha a mesma profundidade de um Gurps ou um Storyteller (aquela coluna de Conhecimentos é quase uma tabela de múltipas inteligências). Mas ainda sim, dá pra usar inteligência sem medo nenhum. Só não espere que seja tão fácil como em um D&D.

9 comentário(s):

Newton Nitro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Nas minhas campanhas de 3d&t eu simplismente tenho um atributo novo, o Inteligência, e dou 2 pontos a mais para colocar nos atributos básicos. :)

Hunter disse...

Nas minhas campanhas eu faço algo bem simples, primeiro que a inteligencia de forma geral é feita pelo jogador, se ele quer jogar com um Meio ogro Barbaro primitivo, é de se esperar que ele seja burro e que o jogador não aja de forma incoerente. Caso ele faça algo superior a seu nivel de inteligencia, rola-se um dado de Habilidade com alguns redutores, se passar, ele consegue, se não passar, ele pode até saber o que fazer mas não consegue se expressar ou fazer
Agora com personagens inteligentes, quando acontece algo que o jogador não saiba, mas o personagem deva saber, rola-se um teste (ou não) e diz que ele percebeu algo e diz o que é

Anônimo disse...

O mesmo serve para a Habilidade não?
Um ser humano comum tem uma Habilidade igual a zero, certo?
Uma galinha também tem habilidade igual a zero, visto que não existe atributo negativo no 3d&t.
Ou seja, tanto um humano quanto uma galinha tem a mesma habilidade, podem fazer as mesmas coisas?
Esquisito... Acho que simplicidade demais pode complicar também.

Bruno Fitaroni disse...

Já tentou pegar uma galinha?
=)

Mas falando sério, na minha humilde opinião, a questão da habilidade 0 é só combinar com o Mestre que não tem erro. ;)
Ps.: Raro ter uma ficha com Habilidade 0, mesmo inicial, então facilita ao jogador/Mestre lidar com essa diferença "homem/galinha".

Anônimo disse...

Olá,meu nome e Bruno
Vamos lá, o post fikou bem legal apesar de alguns erros, ele sabe usar a pouca inteligência que tem heheheh brincadeira brother;D

Ja na parte da Habilidade 0,
sempre quando meu amigo narra,
eu sempre coloco mais pontos em habilidade pois para somar seu atack corpo a corpo é Força + Habilidade, Em magia ou atacks de longe (Arco e flexa) e somado o poder de fogo + habilidade,
E no caso que você for atackado,
é somado sua defesa + a sua habilidade ...
No meu caso habilidade é essencial

Muito Obrigado a todos pela atenção
e disculpe qualquer coisa ;D


By: Bruno

Ásbel disse...

Quando alguém que escreve "atackado" tira a gente de ser pouco inteligente, é praticamente um elogio.

Isso que você disse não tem muito a ver com o post não, mas é verdade sim. É uma incongruência do sistema considerar a habilidade como destreza e inteligência e ainda dar a ela uma importância dobrada na hora da batalha.

Um dia eu posto sobre isso aqui e a gente discute mais a ideia.

Obrigado e volte sempre.
Desejamos muitos acertos críticos nos seus "atacks de longe".

Xerxes Lins disse...

O artigo é meio velho, mas interessante ainda.

Eu não consigo usar a HABILIDADE pura, como nas regras normais.

Um problema que surge é o que eu chamo de "bug do mago ninja". Ou seja, o mago, eficiente, precisa de HABILIDADE. Mas quando o jogador aumenta a HABILIDADE para o mago ficar bom em magias, automaticamente o mago fica mais ágil e veloz também. Algo que não tem nada a ver com mago. Mas pelas regras normais todo mago poderoso também é ninja! Por isso eu chamo de "bug do mago ninja".

Para corrigir isso é simples.

Eu divido a HABILIDADE em AGILIDADE e INTELIGÊNCIA. Assim, as perícias mentais e magias usam a INTELIGÊNCIA e não a AGILIDADE. O mago, para ser bom, precisa aumentar a INTELIGÊNCIA e não se tornará "ninja".

O outro problema eu chamo de "bug do mago vigoroso". Vejamos, o mago precisa de Pontos de Magia. Mas isso é dado pela RESISTÊNCIA. Ou seja, pelas regras normais, para o mago ter muitos PMs ele precisa ser vigoroso! Imagina um mago parrudo, que aguenta levar porrada! Nada a ver!

Para resolver isso eu divido a RESISTÊNCIA em CONSTITUIÇÃO e VONTADE. Tudo que for relacionado à resistência mental, usa a VONTADE e não a CONSTITUIÇÃO. Além disso os PMs passam a ser baseados na VONTADE enquanto os PVs na CONSTITUIÇÃO.

Isso não causa nenhum problema no jogo.

Abraço.

mateus disse...

Xerxes Lins, Gostei da idéia, acho que vou usar.
Mas fazendo isso, você aumenta o número de pontos de personagem na criação de personagens? no caso de personagens inciantes construídos com 5 pontos, se eu quiser usar essa sua regra aí, eu aumento o número de pontos para se distribuir ou deixo 5 mesmo?